domingo, 15 de março de 2009

" Erro do cérebro faz acreditarmos em coisas que nunca ocorreram"

Área em que memória é processada pode nos fazer acreditar em recordações falsas.
Achado ajuda medicina, causa impacto nos tribunais e dá desculpa para marido esquecido.

Tem certeza de que pode confiar na sua memória? Um estudo revela que, dependendo da área do cérebro que processa as suas lembranças, pode acreditar plenamente em um acontecimento que nunca existiram. Além de dar uma boa desculpa para namorados e maridos esquecidos (“Não, amor, eu não prometi que não ia no futebol, deves ter processado essa memória no lado errado do cérebro”), a pesquisa pode ter um impacto importante no tratamento de doenças que afectam a memória, como o mal de Alzheimer, e influenciar até mesmo julgamentos em tribunais.
A formação de memórias, verdadeiras e falsas, ocorre em duas importantes áreas cerebrais: o lóbulo medial temporal (LMT) e a rede frontoparietal (RFP). O primeiro concentra-se nos "factos" da lembrança, nos detalhes. O segundo foca mais no ambiente geral da memória, nos sensações e na familiaridade evocadas por ela.
De acordo com os pesquisadores, as pessoas costumam confiar mais nas memórias mais detalhadas. O que não impede, é claro, de sentirem familiaridade com algo que nunca aconteceu. Segundo o líder do estudo publicado na revista "Science" desta semana, Roberto Cabeza, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, a rede frontoparietal funciona como uma “assinatura das falsas lembranças”.
Para investigar de onde surgem essas memórias falsas, os cientistas utilizaram um truque com palavras, enquanto observavam o funcionamento do cérebro de um grupo de voluntários. Por exemplo, eles listavam uma série de nomes de animais de fazenda, como "vaca" e "cavalo". A lista, no entanto, não incluía a palavra "porco". Mas quando os participantes tinham que lembrar os nomes, quase sempre incluíam o animal na listagem. E, para fazer isso, usavam a área do cérebro ligada à familiaridade da memória, e não aos detalhes.
Para as pessoas, a diferença é imperceptível. “Estamos tão certos das nossas recordações verdadeiras como estamos das falsas”, afirmou ao G1 Hongkeun Kim, da Universidade Daegu, na Coreia do Sul, um dos autores do trabalho. “Ainda assim, o que acontece no nosso cérebro é bem diferente”, diz ele.
E se é verdade que podemos acreditar nas memórias falsas que criamos, o contrário também pode acontecer. “Nossas memórias se perdem ao longo do tempo. E, às vezes, nosso cérebro nos engana e passamos a duvidar de coisas que realmente aconteceram”, explica Kim.
Segundo os pesquisadores, a descoberta pode ajudar no diagnóstico do mal de Alzheimer. “Idosos saudáveis apresentam redução nas memórias verdadeiras e aumento das falsas, possivelmente porque dependem mais da área do cérebro que dá a visão geral da lembrança. Pacientes com Alzheimer apresentam déficits tanto nas recordações reais quanto no processamento das falsas. Entender a relação desses tipos diferentes de memória pode ajudar a diagnosticar a doença”, afirma Cabeza.
Além disso, o trabalho pode ter impacto nos tribunais. “Entender as bases neurais da confiança em memórias verdadeiras e falsas pode ajudar a explicar porque, às vezes, as testemunhas estão completamente convencidas de algo que nunca ocorreu”, completou Cabeza.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muitos parabéns pelo Blog! Os artigos estão muito interessantes!
Fico muito orgulhoso por ter assistido ao nascimento deste projecto de AP! Grande abraço e beijinhos para vocês!
Bruno Henriques

Cristiano disse...

Impressionado... Será que as minhas lembranças são verdadeiras?
Artigo bastante interessante.