domingo, 15 de março de 2009

“Diferenças entre cérebro masculino e feminino ainda dividem especialistas”

" Os investigadores do cérebro acreditam que a guerra entre os géneros está «ultrapassada» e que ninguém procura encontrar um 'sexo forte', mas as diferenças cerebrais entre homens e mulheres ainda geram discordâncias entre os especialistas.
«É inegável que existem diferenças entre o cérebro masculino e o feminino» afirmou Manuel Paula Barbosa, director do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto, para quem as distinções «vão de aspectos como o peso (o cérebro do homem pesa cerca de 1.450 gramas e o da mulher cerca de 1.350) a variações de índole molecular».
No entanto, o especialista desmistifica a ideia de guerra dos sexos: «Nenhuma investigação actual visa determinar se a mulher é superior ao homem ou o contrário, isso está ultrapassado e caminhamos para a igualdade absoluta, reconhecendo que os cérebros de homens e mulheres se complementam e que as diferenças são salutares».
Exemplificando, Manuel Barbosa considerou que «as mulheres são autênticas corredoras de fundo - mais perseverantes e estóicas e com uma enorme capacidade de trabalho, além de possuírem uma memória do imediato muito mais desenvolvida do que os homens».
«Já os homens agem mais por pulsões e desistem com maior facilidade dos seus objectivos, embora tenham uma melhor memória espacial e uma grande capacidade ao nível da intuição musical e da matemática», adiantou.
De acordo com o também professor de Neuroanatomia é ainda preciso compreender que «essas diferenças assentam em características morfológicas condicionadas por hormonas sexuais».
«Um macho castrado nunca terá um cérebro masculino normal» - sublinhou.
A influência hormonal no dimorfismo sexual cerebral foi também assinalada à agência Lusa por Dulce Madeira, professora no Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto.
Devido à estreita ligação entre o cérebro e as hormonas sexuais, «ao longo dos anos as variações hormonais vão influenciando a morfologia cerebral e a neuroquímica, nomeadamente fazendo com que certas diferenças se tornem menos evidentes", declarou.
A investigadora do Centro de Morfologia Experimental destacou ainda que a diferença entre os cérebros masculino e feminino passam por «uma assimetria existente entre os dois hemisférios cerebrais, que é mais acentuada no género mas culino».
«Doenças como o autismo e a esquizofrenia, que são predominantes no homem, têm relação com essa maior assimetria», realçou a docente de Anatomia.
«No caso da mulher, há uma maior semelhança entre os dois hemisférios, existindo também uma maior comunicação entre eles, o que faz com que as representantes do sexo feminino tenham maior capacidade de recuperação de acidentes vasculares cerebrais».
Mas nem a assimetria é consensual entre os investigadores desta área. «As maiores ou menores assimetrias entre os hemisférios não são uma condição que se possa associar ao género, pois a variação é muitas vezes mais acentuada entre pessoas do mesmo sexo do que entre pessoas de sexo diferente», assegurou o neurocirurgião António Gonçalves Ferreira.
Na opinião do director do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina de Lisboa, «não há estudos estatisticamente significativos sobre o dimorfismo sexual do cérebro e as diferenças apontadas têm sido muitíssimo pequenas e de significado duvidoso».
«Embora se conheçam diferenças, por exemplo ao nível da percepção e da organização visoespacial, não há nenhuma zona do cérebro que seja claramente diferente entre homens e mulheres», reforçou Gonçalves Ferreira, que está a trabalhar na área da neuroanatomia funcional.
A única diferença assente parece ser mesmo ao nível do tamanho do cérebro, «que no homem tem o volume de 1.600 centímetros cúbicos e na mulher de 1.500», indicou o professor de Anatomia e de Neuroanatomia na Faculdade de Medicina de Lisboa.
Porém, como defendeu Manuel Barbosa, da Faculdade de Medicina do Porto, «no cérebro humano o tamanho pouco conta, estando as investigações actuais mais centradas em determinadas áreas do córtex cerebral, as zonas de silêncio, acerca das quais pouco se sabe»."
Fonte: Lusa\SOL

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